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Foto de Koshu Kunii na Unsplash

A necessidade cada vez mais latente de sermos e nos posicionarmos sempre como ANTIRRACISTAS

*Esse texto foi escrito em 03 de junho de 2020, como uma das colunas que eu publicava semanalmente no site da Emais Editora, que, após passar por uma reestruturação, deixou de ter esse espaço. Por ainda acreditar em todas as palavras então escritas, eu a republico agora em 2023, aqui no blog do meu site.

Hoje entra no ar a minha 30ª coluna para o site da Emais Editora, que até então as publicava semanalmente. Um número muito expressivo e significativo, que traduz o meu comprometimento semanal de compartilhar minhas ideias e pensamentos com vocês, meus leitores e minhas leitoras. Um grupo bastante heterogêneo, de pessoas que me conhecem super bem, que fazem parte da minha vida, mas também colegas de profissão, estudantes de Direito, pessoas que não me conhecem, mas de alguma forma se identificam com o que escrevo. 

Eu encaro como uma responsabilidade muito grande ocupar este espaço, levar comigo o nome de uma editora que tanto significa na minha vida, e também expor e compartilhar um pouco de quem eu sou. Todas as minhas colunas, desde as que abordam temas pessoais quanto as colunas técnicas, relacionadas ao Direito e Processo Penal, possuem um pedaço de mim. Eu simplesmente não sei escrever sem me doar e colocar um pedacinho do que sinto e acredito nas minhas palavras. 

E quando parei para escrever essa coluna, fiz questão de revisitar todas as passadas (obrigada Fe pela dedicação em transformar todas as minhas colunas no formato novo). Sinto muito orgulho e satisfação desse “pequeno grande” arcabouço dos mais variados conteúdos já abordados. Faria tudo outra vez. Escolheria todos os temas outra vez.

E é a partir de um tema bem recorrente, abordado em 4 colunas passadas, que vejo a necessidade de mais uma vez me posicionar e falar sobre racismo. 

A primeira vez que senti a necessidade de escrever sobre isso foi com a assassinato, pela polícia, de Ágatha Félix, parte de uma política deliberada e genocida do governo estadual do RJ (coluna de 25/09/19). Depois, tratei sobre o tema no Dia da Consciência Negra, falando sobre representatividade cultural para além dos lugares comuns (coluna de 20/11/2019). Em seguida, dediquei uma coluna inteira ao assassinato de 9 jovens em um baile funk em Paraisópolis, São Paulo, muitos deles negros e moradores da periferia (coluna de 04/12/19). E esse ano, a partir de um episódio de racismo velado no Big Brother Brasil 20, compartilhei a minha experiência pessoal com a transição capilar, que culminou em assumir o meu cabelo crespo.

São todas situações que me marcaram muito e me fizeram sentir angústia, indignação, vontade de fazer algo a respeito. 

E hoje a história se repete. Partimos de acontecimentos recentes bastante dramáticos, a nível mundial. George Floyd foi brutalmente assassinado em Minneapolis, nos EUA, por um policial que o asfixiou, colocando o joelho no seu pescoço e ali o mantendo, em plena luz do dia, ao som de Floyd suplicando que não conseguia respirar, durante 8 minutos. 

João Pedro, adolescente de 14 anos, foi morto por um tiro disparado pela polícia, em São Gonçalo/RJ, quando estava dentro de sua própria casa. Sua casa, aliás, foi alvo de 70 disparos de arma de fogo.   

O que coincide em ambas as histórias? As vítimas tinham a cor da pele preta. 

O que muitos, em especial aqueles que detém a força repressiva do Estado, consideram como sinônimo de perigo, violência, risco, medo, e usam esses estereótipos como justificativa para a violência. 

Quem não carrega essa cor da pele jamais saberá o que é já nascer sob um estereótipo como esse, e tentar viver numa cultura enraizada em ditames racistas. O racismo está no nosso vocabulário, na forma como nos vestimos, nos locais que consideramos como seguros e perigosos, no nosso cabelo, nos nossos padrões de beleza, nas músicas que ouvimos, nos filmes, séries e opções de lazer que consumimos. Ele está em todo lugar, e por isso precisa ser antes reconhecido, para que possa ser combatido de uma maneira eficaz. Há pessoas que vivem num mundo negacionista onde o racismo não existe mais e somos todos iguais. O que não é verdade.

Então além de nos permitirmos sentir a dor dessas mortes, dessa desigualdade racial, social, do reconhecimento – para aqueles que ainda não o fizeram – de que vivemos numa sociedade racista e preconceituosa que ainda se vê no direito de tirar vidas com base na cor da pele, devemos pensar se estamos de fato fazendo a nossa parte para acabar com o racismo. 

É uma luta que envolve todos nós, sem exceção. Ela começa com a forma como você se reconhece em sociedade, com a autocrítica e mudança de comportamento pessoal. Depois como você se posiciona perante os outros. 

Você busca entender o que é racismo? Você fala sobre isso? Você aponta e discute a atitude/fala preconceituosa feita por um amigo, colega de trabalho, familiar? Ou você se cala e prefere deixar passar para não se envolver numa discussão? Você consome cultura negra? Você conhece e valoriza artistas e escritores negros? Você se questiona porque não existem mais pessoas negras nos seus círculos sociais, profissionais ou nos ambientes que você frequenta? Isso te incomoda ou você nem pensa sobre isso? Se alguém aponta uma atitude sua como racista, você se desculpa ou tenta se justificar? Ou apenas ouve e reflete? Você se reconhece como parte do problema? Porque sim, todos nós somos parte do problema. Todos nós temos muito o que aprender e o que fazer para solucioná-lo.

É uma longa jornada, cansativa, custosa, difícil, mas tão tão necessária, e que precisa do esforço de todos. Portanto, faça o esforço consciente de pensar sobre o assunto. Digerir. Não deixar passar. Jamais esquecer. Jamais aceitar. 

#VidasNegrasImportam #BlackLivesMatter 

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