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Acabando com o mito da mulher perfeita

Amigos e amigas, não existe mulher perfeita. Simples assim. E nem aquela que agrade a todos. Ou que nunca erre. Mas o que existe para tudo quanto é lado é gente querendo dar opinião na sua vida, mesmo que você não tenha perguntado absolutamente nada.

O primeiro combinado que temos que fazer é que o que qualquer um posta na rede social não é um retrato fiel da sua realidade. A gente consegue editar e passar uma ilusão sobre absolutamente tudo. Portanto nunca se esqueçam de não se comparar com aquilo que a pessoa escolhe mostrar sobre ela na sua rede social.

Em segundo lugar, cada um é responsável pelo que posta. E a decisão de postar ou não é – adivinhem de quem – do titular da rede social. Se você não gostou da foto ou o tema da postagem não te interessou, é só ignorar e seguir em frente com a sua vida. Parece difícil, mas não é. 

Em terceiro lugar, quando uma mulher posta uma selfie, uma foto dela, ou um texto a respeito de uma experiência própria, autoestima, amor próprio, autoconhecimento, se você não quiser curtir ou comentar algo positivo, você não precisa dizer absolutamente nada. Como diria minha mãe, “se não tem o que falar [de bom], fique quieto”.

Não temos uma obrigação de reagir às postagens alheias. E não precisamos da opinião de todo mundo sobre absolutamente todas as coisas que acontecem ou deixam de acontecer nas nossas vidas.

Digo tudo isso porque semana passada decidi fazer um post no Instagram com exemplos do que eu já tinha ouvido a meu respeito sobre a minha aparência, meu corpo, meu estilo e a relação de tudo isso com a minha vida profissional.

O post teve uma ótima repercussão, entre homens e mulheres, com muitos exemplos de sororidade proferidos. Meu intuito era justamente incitar a reflexão e mostrar que somos todas alvos de comentários indesejados e não requisitados sobre aspectos de nossas vidas que só dizem respeito a nós mesmas.

Porém, ontem à noite, tive que ouvir um comentário – não requisitado – sobre o meu post, dizendo que foi muito legal tudo o que eu escrevi, a respeito da autenticidade, principalmente, mas que eu não tinha sido “verdadeira”. Porque, segundo a pessoa, eu prego tanto que as mulheres têm o direito de fazer o que bem entenderem de suas vidas sem enfrentar o julgamento alheio, mas eu não aplico isso a mim mesma. Isso porque, desde que eu tornei a conta do meu Instagram pública, eu teria apagado um série de fotos e vídeos em que eu aparecia: dançando, ouvindo funk, bebendo, com decote ou de biquíni. Na lógica da pessoa dona da opinião, por eu ter apagado as minhas fotos do meu perfil, eu não estaria sendo autêntica com a imagem que eu supostamente gostaria de passar a meu respeito.

Pois então… por mais desconstruída, opinativa e segura de si que você seja, não existe mulher nesse mundo que consiga passar um dia de sua vida sem ser julgada por alguma coisa. Se você faz alguma coisa, você é julgada. Se você não faz, também. Se você acerta, aguente o julgamento. Se você erra, mais julgamento ainda. Se você muda de opinião então, isso é inaceitável. Querer tomar conta da sua própria vida? Valorizar mais a sua própria opinião do que a opinião alheia? Deixar de dar satisfação sobre a sua vida? Absolutamente inadmissível.

Escrevo essa coluna cansada. Cansada de sempre ter que resistir, me impor, explicar coisas que me parece tão fáceis de entender. Tive um dia difícil. Queria hoje só falar de Direito. Tenho um mecanismo de defesa interessante, que quando as coisas “apertam” na minha vida pessoal, eu entro em full mode profissional e produzo como nunca, custe o que custar. Para mim, é muito fácil sentar, estudar, produzir e abordar temas jurídicos por aqui. Difícil é mostrar que sou vulnerável, repleta de imperfeições, que cometo erros e acertos absolutamente todos os dias, e tenho dias bons e ruins como todo mundo que habita este planeta.

Mas em vez de me afundar em trabalho, hoje meditei. Fui ver o mar. Dirigir, algo que eu adoro fazer. Comprei besteiras no supermercado. Voltei para casa, abri o Netflix, e tudo o que eu queria era me anestesiar vendo tv para não pensar em mais nada. Estava prestes a recomeçar a assistir do início Grey’s Anatomy pela milésima vez quando, na minha lista de “assistir novamente”, aparece o documentário da Brené Brown, “The Call to Courage”. Brené Brown ficou famosa por divulgar ao mundo os resultados de suas pesquisas sobre vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia.

Se você jogar o nome dela no Google, você vai ver que ela tem vários livros publicados, muitos vídeos no Youtube e TED Talks imperdíveis. Eu até já divulguei por aqui o livro dela “A coragem de ser imperfeito” como dica para ser lido na quarentena. Mas esse filme do Netflix, que é uma palestra muito legal dela, resume bem a mensagem que ela quer passar. Brené defende que não existe coragem sem vulnerabilidade. Para você ser corajoso, você precisa ser vulnerável. Você precisa se arriscar e estar disposto a fracassar, se assim o for. 

Ela teve o insight para essa ideia a partir de um trecho de um discurso de Theodore Roosevelt, que eu reproduzo aqui:

“Não é o crítico que importa, nem aquele que aponta como o homem forte tropeça, ou onde o realizador das proezas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está de fato na arena, cuja face está manchada de poeira, suor e sangue; aquele que luta valentemente; que erra, que “quase chega lá” repetidamente, porque não há nenhum esforço sem erros e falhas; aquele que realmente se esforça para fazer as obras; que conhece o grande entusiasmo, grandes devoções; que se entrega a uma causa nobre; que, no melhor dos casos, conhece, ao final, o triunfo da grande conquista e que, no pior dos casos, se falhar, ao menos falha ousando com grandeza, grandeza, de modo que o seu lugar jamais será entre as almas frias e tímidas, que não conhecem nem a vitória, nem a derrota.”

Resumindo, se você não está na arena da vida, errando e acertando todos os dias, sendo vulnerável, sabendo o que significa acordar e ir dormir todos os dias na minha pele, o que você pensa a respeito do que eu faço ou deixo de fazer não me interessa.  

P.s.: minha coluna esse ano se resume em uma semana falando sobre Direito e na outra desabafando sobre a vida. Nem só de Direito se vive, não é mesmo? 🙂

Dica da Semana

Leiam, assistam, reflitam a respeito de qualquer conteúdo produzido pela Brené Brown. É tudo muito muito muito bom. 

Link do TED Talk: https://www.youtube.com/watch?v=qqGJxS4kVPM

Trailer Netlflix: https://www.youtube.com/watch?v=gr-WvA7uFDQ 

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