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Direito, Feminismos e RBG

“As mulheres terão alcançado a verdadeira igualdade quando os homens compartilharem com elas a responsabilidade de criar a próxima geração.”

“À medida que as mulheres alcançam o poder, as barreiras caem. À medida que a sociedade vê o que as mulheres podem fazer, à medida que as mulheres veem o que as mulheres podem fazer, haverá mais mulheres fazendo coisas, e todos nós nos beneficiaremos disso.”

Ruth Bader Ginsburg

2020 tem sido um ano de muitas perdas, não só pelo novo coronavírus

Na última sexta-feira o mundo se despediu de Ruth Bader Ginsburg, juíza da Suprema Corte dos EUA, um ícone feminista.

Por indicação da minha amiga Bárbara eu conheci a história de RBG, e desde então passei a acompanhá-la. Assisti o documentário “A Juíza” e passei a recomendá-lo a todas as pessoas que eu conhecia, principalmente colegas mulheres da área do Direito.

Nem sempre nos sentimos representadas no mundo jurídico. Nem sempre acreditamos que vamos realizar nossos sonhos profissionais. Somos continuamente silenciadas e temos nosso intelecto questionado simplesmente por sermos mulheres.

Se defendemos com paixão uma tese jurídica, se não arrefecemos nossas opiniões, se somos sérias, assertivas, somos taxadas de bravas, histéricas, sentimentais. Somos constantemente testadas se realmente sabemos o que sabemos, se temos força e coragem suficientes para continuar ocupando posições que nos são tradicionalmente negadas.

E isso não é de hoje. RBG lutou arduamente contra o silenciamento feminino e a discriminação por gênero em toda a sua vida, acadêmica e profissional. Ela foi a vida inteira comprometida com a busca da paridade e equidade de gênero, e foi em razão do seu brilhante trabalho que chegou no posto mais alto da carreira, como Justice da Suprema Corte.

Ser mulher e ser jurista nos impõe uma série de desafios cotidianos, e, na minha opinião, a solução para encarar de frente essas questões está em reconhecer o seu potencial enquanto mulher, não tolerando atitudes misóginas e estendendo a mão a outras mulheres. 

A minha história com o Direito e me descobrir feminista é muito interligada.

Sou filha única de uma mulher incrível, brilhante que sempre lutou por tudo que acreditava sem se importar com a opinião alheia, e de um pai que desde pequena me fez ter certeza que eu poderia ser o que quisesse na vida, e chegar onde quisesse, com dedicação e afinco. Jamais pensei que ser mulher poderia me impedir de fazer qualquer coisa, até entrar na faculdade de Direito. 

Descobrir o mundo masculino, sexista e machista do Direito, desde a primeira fase do curso e o primeiro estágio exigiu com que eu me posicionasse e tomasse consciência do meu local na sociedade. Fui criada para reconhecer meus pontos altos e baixos, saber opinar, saber argumentar e lutar por aquilo que eu acredito. E foi fazendo tudo isso que conheci o(s) feminismo(s).

Apesar dessa palavra hoje ser utilizada muitas vezes de forma pejorativa ou ser banalizada, por total falta de conhecimento de quem a profere, é com muito conforto que me autodeclaro feminista.

Não penso que essa atitude significa associar um “palavrão” a minha imagem. Numa cultura voltada a enaltecer a figura masculina e a negar espaços e voz às mulheres, ser feminista é uma necessidade, em especial se você é mulher e atua numa carreira estruturalmente masculina (quase todas). 

Nós, mulheres, jamais teríamos chegado onde chegamos sem as milhares de mulheres como Ruth Bader Ginsburg, que tiveram coragem e força de lutar pelos nossos direitos. 

Na minha opinião, portanto, há uma relação intrínseca entre ser feminista e ser entusiasta do Direito. Ambos devem se pautar no respeito à liberdade e à igualdade. Por isso a nossa necessidade de conhecer a história dos direitos das mulheres pelo mundo, de valorizar aquelas que vieram antes de nós e de nos apoiarmos mutuamente na construção de um futuro mais igualitário, lado a lado.

Sem mulheres não há História. Sem mulheres não há representatividade. Sem mulheres não há Democracia. Sem mulheres não há Direito. 

“[Eu gostaria de ser lembrada como] alguém que usou todo o talento que tinha para fazer seu trabalho da melhor maneira possível. E para ajudar a reparar as divisões em sua sociedade e tornar as coisas um pouco melhores por meio do uso de qualquer habilidade que ela tivesse.”

E você será, Ruth, além de lembrada, um grande exemplo para todas nós seguirmos.

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