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Mulheres na política: uma reflexão necessária

Entramos no segundo semestre de 2020, o que ainda está difícil assimilar num ano tão estranho quanto esse. Mas isso significa que logo logo teremos eleições municipais! Em razão disso e por uma decisão pessoal, tenho consumido muito conteúdo sobre política. Nunca fui muito fã do assunto, até entender que a mera existência feminina, combativa e sobrevivente num mundo tão sexista é por si só um ato político. Também concluí que nunca me senti particularmente atraída pelo tema simplesmente por não me sentir representada no cenário político brasileiro, que por vezes parece um grande clube do bolinha repleto de disputas de poder.

Porém, essa frase de Gandhi é basicamente um mantra na minha vida: “seja a mudança que você quer ver no mundo.” Se quero viver num mundo com equidade de gênero, preciso refletir sobre o meu papel e as minhas atitudes nessa mudança. E isso envolve necessariamente o estudo e a compreensão sobre política e o porquê mulheres no poder fazem tanta diferença. 

Primeiro, precisamos compreender a importância do nosso voto. Por mais que cada um/uma faça a sua parte todos os dias, são nos espaços de poder que grandes mudanças podem acontecer. O Poder Legislativo brasileiro é composto por cidadãos eleitos que literalmente escrevem leis com potencial de mudar toda a nossa vida. 

Por isso é tão necessário que os membros do Legislativo representem a diferença e a pluralidade da população brasileira. Somos muitos, diversos em cultura, religião, cores, identidades de gênero, poder aquisitivo. E enquanto todos nós não nos sentirmos representados, pouco irá mudar. Pessoas diferentes no poder votam leis diferentes, simples assim.

Em quantas mulheres você votou nas últimas eleições? Pessoas negras? Trans? Indígenas?

Falando sobre equidade de gênero, mulheres ocupam somente 15% das cadeiras no Congresso Nacional. E há quem diga que isso é porque mulheres “não se interessam por política”, “não entendem sobre política”. Difícil acreditar nisso quando nós mulheres somos mais da metade da população, né?

Esses 15% são fruto de um cenário já conhecido – disparidade de direitos, cobranças e imposições sociais e culturais sobre o papel da mulher na sociedade. Fora isso, são muitos os desafios de se capacitar e concorrer a um mandato eletivo – financeiros, pessoais, profissionais. E ainda, se eleita, mais difícil ainda é se manter no poder. Homens não precisam lidar com a chamada violência política de gênero, na qual mulheres são ameaçadas, assediadas e discriminadas não pela qualidade do seu trabalho, mas meramente por serem mulheres. 

Há quem alegue que mulheres possuem uma visão diferenciada sobre a condução de países e estratégias de resolução de conflitos, por enxergarem as demandas como um todo, serem entusiastas de uma atuação colaborativa e terem uma tendência natural ao cuidado. Sobre esse aspecto, eu gostaria de mencionar o incrível resultado mundial de enfrentamento à pandemia do COVID-19 por países conduzidos por mulheres, como Islândia, Taiwan, Nova Zelândia, Alemanha, Finlândia, Dinamarca. 

Uma matéria sobre o tema publicada na Forbes – “Mulheres na liderança são o diferencial dos países com as melhores respostas ao coronavírus” – fala que essas grandes líderes estão nos mostrando uma maneira alternativa e atraente de exercer poder, por meio de estratégias pautadas na verdade, transparência, decisividade, tecnologia e amor. Os exemplos que mais gostei:

  • “Sanna Marin se tornou a mais jovem chefe de estado do mundo quando foi eleita em dezembro do passado na Finlândia. Foi preciso uma millennial para liderar usando influenciadores digitais como agentes-chave na luta contra a crise do coronavírus. Reconhecendo que nem todo mundo lê a imprensa tradicional, ela está convidando influenciadores de qualquer idade a divulgar informações baseadas em fatos sobre o gerenciamento da pandemia.”
  • “A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, teve a ideia inovadora de usar a televisão para conversar diretamente com seus jovens conterrâneos. Solberg realizou uma conferência de imprensa em que nenhum adulto era permitido. Ela respondeu às perguntas de crianças de todo o país, explicando por que não havia problema em sentir medo. A originalidade e a obviedade da ideia nos deixam sem fôlego. Quantas outras inovações simples e humanas desencadeariam de mais lideranças femininas?”

Muito inspirador, né? Por isso o texto de hoje foi uma reflexão sobre a necessidade de MAIS mulheres e de mais diversidade na política e também sobre a importância do nosso voto.  

John Lewis, um político e líder de direitos humanos norteamericano, que faleceu agora em julho, mencionou num discurso que  “democracia não é um estado. É um ato, e cada geração deve fazer a sua parte para ajudar a construir uma nação e sociedade mundial em paz consigo mesma.” Ainda, “votar e participar do processo democrático são fundamentais. A votação é o agente de mudança não violenta mais poderoso que existe em uma sociedade democrática.”

Com essas poderosas palavras, encerro meu texto de hoje. 

As coisas sempre podem ser feitas de outra maneira. Nada é estático. Vamos fazer parte dessa mudança com o nosso voto consciente e diverso?

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