O fim da oposição entre doar sangue e exercer livremente a sua sexualidade (com segurança)

Confesso que comecei a escrever essa coluna ao som de “We Are The Champions”, do Queen 😀

Na sexta-feira passada, dia 08/05/2020, o STF concluiu o julgamento da ADI 5.543 e, por 7 votos a 4, derrubou as regras da Portaria nº 158/2016 do Ministério da Saúde e RDC nº 34/2014 da ANVISA, que impediam a doação de sangue por homens homossexuais que tiveram relações sexuais com outros indivíduos do mesmo sexo e/ou parceiras sexuais destes, pelo período de 12 meses.

A proibição de doação de sangue por homessexuais existia desde a década de 1980, quando teve início a epidemia de AIDS no Brasil e se pensava, erroneamente, que era uma doença contraída apenas por pessoas gays. O que se construiu na época era um conceito de grupo de risco, no qual se inseriam os homessexuais, usuários de drogas injetáveis, hemofílicos, por exemplo. E hoje, esse conceito pode/deve ser substituído por comportamento de risco – o nível de exposição sexual, sem proteção, que uma pessoa tem ao se relacionar com outras (para mais informações, assista esse vídeo do Drauzio Varella

Porque é aí que reside o problema. O sexo sem proteção, que expõe qualquer um, independentemente da sua orientação sexual, à infecções sexualmente transmissíveis (vocês sabiam que agora não se fala mais DSTs, e sim ISTs? Aprendi essa com a sexóloga @anacanosa). Logo, importantíssima a decisão do STF. Recomendo muito a leitura do voto do relator, Min. Edson Fachin (aqui). É de uma beleza literária e empatia dignas de serem reproduzidas neste trecho: 

A aversão exagerada à alteridade, quer decorra de orientação sexual ou de manifestação de identidade de gênero, não raro deságua em sua negação e, no extremo, em tentativas, por vezes tristemente bem sucedidas de sua aniquilação existencial, impedindo-se de se ser quem se é. 

[…]

O sangue que circula nas veias representa a possibilidade de construção e reconstrução diária da existência, o palpitar de uma história a ser vivida. Para além dessa dimensão individual, no campo simbólico o sangue corresponde à negativa de qualquer possibilidade de arrebatamento da humanidade de quem quer que seja por motivos como raça, cor, gênero, orientação sexual, língua, religião, origem, etc. O sangue como metáfora perfeita do que nos faz inerentemente humanos.” 

Sejam livres! Usem camisinha! E doem sangue!

E…

Domingo (10/05) foi Dia das Mães. Ontem (12/05) foi Dia Internacional da Enfermagem. Duas datas comemorativas muito especiais. E como adoro inovar nessa coluna, hoje convidei uma pessoa muito especial, inteligente, brilhante e competente para escrever junto comigo sobre esse tema tão digno de nota: a minha mãe e enfermeira aposentada, Jane de Fatima Walter. Estou super feliz e entusiasmada que agora vocês poderão ler um pouquinho do que ela pensa sobre o assunto: 

Doação de sangue na pandemia 

Doar sangue é um ato voluntário, altruísta e de amor. Amor à vida, amor ao próximo. 

Nesta pandemia, com restrição ao direito de ir e vir, com pessoas adoecendo por COVID-19, as doações diminuíram. Embora a demanda de transfusões por acidentes automobilísticos também tenha baixado, pacientes oncológicos, com anemias crônicas, febre amarela, dengue, entre outras, continuam necessitando de tratamento hemoterápico.

A doação é segura e segue as precauções para proteção do doador, dos profissionais de saúde e dos receptores de hemocomponentes e hemoderivados.

Quanto mais candidatos à doação, mais doadores teremos. E, mais importante ainda, será ampliar o cadastro de doadores APTOS.

É importante que o candidato preencha os requisitos necessários à doação que são*: 

  • estar em boas condições de saúde 
  • idade entre 16 a 69 anos 
  • peso mínimo de 50kg
  • evitar jejum
  • evitar bebidas alcoólicas 
  • sono/repouso anterior de no mínimo 6h
  • portar documento com foto

Por isso é muito bem vinda a decisão do STF de incluir os candidatos LGBTQIA+ às condições dos demais candidatos.

*Para mais informações sobre critérios de doação de sangue em tempos de coronavírus, clique aqui.

Jane de Fatima Walter 

Enfermeira. Graduada em Enfermagem na UFSC. Pós-graduada em Administração dos Serviços de Saúde e de Enfermagem na UFSC. Atuou no HEMOSC e no Hemocentro Lages entre 1998/2003, na triagem clínica de doadores de sangue e como gerente técnica. Mãe da Luísa 🙂

Pessoas vetor criado por gstudioimagen – br.freepik.com

Dicas da Semana

Sex Education (série Netflix)

Explicando o Sexo (série documental Netflix)

Duas séries da Netflix para ampliarmos nossos horizontes sobre os contornos da sexualidade humana. A primeira é simplesmente irresistível! Me apaixonei por vários personagens e enredos, abordando temas super importantes a partir da perspectiva de adolescentes: iniciação sexual, bissexualidade, assexualidade, importância do consentimento e do respeito, e de ser quem se é. É demais! E a 3ª temporada já foi confirmada. Ansiosa!!!

E lá vem eu de novo, novamente, outra vez, indicar a série Explicando! Rsrs. Mas agora a sua irmã “Explicando o Sexo”, com 5 episódios bem curtinhos, instigantes e reveladores. Assistam!

A última dica: DOEM SANGUE!

Deixe um comentário