Sobre parar e viver o momento presente

Acabou a luz. Terça-feira, 16h08. O mundo se resumiu a chuva, raios, trovões, ventania e fim da luz. Parece que tem um ciclone passando por Santa Catarina. Eu ainda tinha muitas coisas a fazer pela frente. Uma coluna para escrever, duas videoaulas para assistir, um texto para ler para o grupo de estudos de amanhã de manhã, uma pesquisa de jurisprudência a ser feita, uma proposta de consultoria, responder WhatsApp, responder Instagram. 

Fiquei sem energia elétrica. E sem sinal no celular, logo sem internet. 40% de bateria nele. E agora? E os planos do dia? O que eu posso fazer? Meu Deus, a luz já vai voltar, para de ser neurótica Luísa, aproveita o momento, não devemos ser tão dependentes assim da energia. Mas pode ser que não volte logo. Eu vi um raio caindo no para-raios do prédio. 

Respira. Carinho nas gatas. Posso ler enquanto ainda tem luz do dia. Boa, tô cheia de leituras atrasadas, em livros físicos e e-books. Será que tenho bateria no iPad? Ufa, 70%. Posso ler quando escurecer também. 

Começo a ler. Acho que vou tomar banho antes de anoitecer e antes de acabar minha bateria no celular. Ainda bem que o chuveiro é a gás. Hoje está tão frio. Meu Deus tomar banho no escuro. Que ruim. Que bom. Que delícia. Parece que a água é mais quente, que o vapor é mais úmido, que a água é mais líquida, molhada. O sabonete está me parecendo mais cheiroso também. Meu corpo parece até mais macio. Hmmm… acho que vou tomar mais banhos no escuro daqui pra frente. Até passar creme parece que virou uma experiência mais sensorial! 

Abro a porta do banheiro. Nada de luz, mas ainda é dia. 

E agora? Ler novamente? Carinho nas gatas. Estou com fome. Meu Deus 17h30 já e nada da luz. Vou comer. O que? Granola com iogurte. Não precisa de luz. Nossa, eu vou aproveitar e lavar a louça do café da manhã e do almoço que ainda não lavei também, antes que escureça. 

Pronto. Me preocupo com as metas do dia novamente. Nada da luz. Já meditei hoje. Será que medito de novo? As gatas só dormem. Como será viver numa realidade em que você não precisa se preocupar com energia elétrica e internet? E prazos? E cursos? E o futuro do país? E o coronavírus? Na próxima encarnação quero nascer gata.

Nossa, tá anoitecendo muito rápido. Estou impressionada com a quantidade de pensamentos na minha cabeça. Parece quando tenho insônia que não consigo desligar. Sou sempre assim? Vou reorganizar a meta da semana. Não. Vou ler. Não. Vou sentar, respirar, quem sabe dormir com as gatas. E se eu ficar com fome de novo? E se a luz não voltar hoje? E a comida da geladeira? Vai que estraga. Que desperdício. Ainda bem que eu não estava no elevador na hora que acabou a luz. Será que alguém ficou preso? Vou interfonar na portaria. Não dá, não tem luz. 

Estou ouvindo muitos sons. Passarinhos, carros, vizinhos. Sons dentro de mim. Meus pensamentos. Meus sentimentos. Quantas coisas acontecem quando a gente é forçado a parar e prestar atenção no momento presente. Preciso fazer mais isso, independente de ter luz ou não. Como é bom escrever. Amo escrever. É como meditar. Colocar tudo para fora e focar numa única coisa só. 18h. Nada de luz. Ainda sem sinal no celular. Gostei desse texto. Acho que escrevi minha coluna dessa semana. 

Todos precisamos e merecemos desligar. Desconectar. Por vontade própria ou porque acabou a luz. É bom para termos perspectiva sobre a vida, nosso lugar no mundo e nossa saúde mental.

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